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Projeto Florestas Culturais

Por Programa em 18/04/2023
Projeto Florestas Culturais

PROJETO FLORESTAS CULTURAIS

O projeto Florestas Culturais visa fomentar e resgatar usos e tradições vinculados à conservação e restauração da floresta biodiversa na paisagem, especialmente para comunidades tradicionais.  

A restauração florestal associada ao uso sustentável de recursos é a estratégia do projeto para promover a floresta na paisagem associada à segurança alimentar e ao desenvolvimento de uma economia florestal biodiversa.

 

A primeira etapa do projeto Florestas Culturais, executada entre janeiro e março de 2023, foi apoiada pela iniciativa RestaurAccion  do Serviço Florestal Canadense no âmbito da Rede LatinoAmericana de Bosques Modelo e permitiu a implantação de 10 hectares de  agroflorestas nas terras indígenas maxakali e pataxó, além de ações de capacitação, coleta de sementes e fibras, produção de mudas e intercâmbio cultural.

 

Terra Indígena Maxakali.

Para a comunidade indígena Maxakali, cujo território sede é quase totalmente desmatado, recursos florestais outrora comuns e abundantes, como a embaúba fonte de fibra, lenha e frutas silvestres são agora escassos.

A resiliência e a força do povo Maxakali devem ser aqui exaltados. Embora estejam localizados no sudeste brasileiro, em uma região predominantemente descaracterizada de sua cobertura florestal original, os Maxakali mantêm uma forte raiz cultural, tendo seus cantos como forte elemento da transmissão de conhecimento para os mais jovens. A língua oficial do território é o Maxakali, sendo o português usado apenas em encontros com não-indígenas. As mulheres têm importante papel organizacional, participando das decisões coletivas, confecção de artefatos como redes de pesca e bornal para guardar a carne de caça e materiais escolares para estudo de crianças, adolescentes e adultos. A vestimenta das mulheres é composta por vestidos coloridos costurados por elas próprias. 

O trabalho do projeto Florestas Culturais na T.I Maxakali do Pradinho envolveu desde a coleta da embaúba, oficinas, plantios e intercâmbio.

 

As oficinas

Para envolvimento e desenvolvimento do Projeto Florestas Culturais foram realizadas diversas conversas e encontros de apresentação da equipe do Arboretum com o apoio da equipe local e regional da FUNAI.  Os encontros eram momentos de celebração com cantos da cultura Maxakali, e momentos de alinhamento entre indígenas e equipe técnica. Com esses encontros e conversas ao longo dos dias que antecederam as atividades, foi possível criar uma relação de confiança e compromisso.

 

 

A coleta

As embaúbas são muito importantes para os Maxakali. É através das fibras presentes na casca dessa árvore que as mulheres fiam sobre suas pernas com um movimento contínuo das mãos. O fio, sem nós, confeccionado por elas, é utilizado para produzir diversas peças: bolsas, redes de pesca, redes para carregar crianças, colares e fios para arcos. Para a colheita da casca da embaúba, os maxakali saem em grupos em busca de fragmentos florestais, hoje distantes, onde possam encontrá-las, já que, atualmente na Aldeia há escassez da espécie. Assim a equipe de coleta de sementes do Programa Arboretum, com apoio da Prefeitura de Bertópolis, acompanhou um grupo de aproximadamente 50 indígenas para a colheita das fibras da embaúba. A equipe, composta de um parabotânico e dois engenheiros florestais, teve o intuito de identificar corretamente a espécie pela nomenclatura botânica, para colheita de sementes e produção de mudas para serem utilizadas nos plantios.

Os plantios

Para os plantios foi possível apoiar sete aldeias e a primeira unidade da Escola Estadual Indígena na implantação das agroflorestas. As áreas selecionadas para o plantio foram ao redor das moradias dos grupos familiares e ao lado da escola, prevendo o maior cuidado, facilidade de manejo e usufruto do sistema. 

As áreas de plantio foram preparadas com aragem em área total, aplicação de calcário e subsolagem da área. Os plantios foram divididos em três metodologias:

Área de roça: linhas compostas de espécies florestais nativas espaçadas a cada 6m, mudas de bananeira a cada 6m e semeadura de culturas agrícolas anuais entre linhas.

Área de pomar: mudas frutíferas diversas a cada 6m e bananeiras a cada 6m em todas as linhas. A cada quatro linhas plantio de mudas florestais nativas.

Área de floresta para lenha e construção: espécies nativas florestais  plantadas de modo adensado.

O plantio das mudas nativas e frutíferas foi realizado em mutirão com a participação das crianças, jovens e adultos das Aldeias. No intervalo do almoço, homens e mulheres prepararam e cozinharam os alimentos para todos os participantes do mutirão. A participação das crianças, em especial, foi bastante surpreendente porque, mesmo com a barreira da comunicação - crianças falam apenas Maxakali e a equipe do Arboretum fala apenas português - houve grande participação por parte das crianças de maneira livre. 

 

Terras indígena Pataxó

Nas aldeias Pataxós o Programa Arboretum atua há dez anos, por meio do apoio na coleta de sementes e na produção de mudas e desde 2020, iniciou plantios de agrofloresta. Contudo, na região são diversas aldeias que sofrem com grande pressão e envolvimento no desmatamento. Mais empenho e ações são necessárias para fortalecer a conservação da floresta, dada a raridade e importância do fragmento florestal primário do Parque Nacional do Monte Pascoal, o único Parque Histórico do Brasil.

Restauraccion de Florestas Culturais trabalhou na Aldeia Pataxó Craveiro para apoiar a sustentabilidade dessa comunidade, apoiando a segurança alimentar e geração de renda com a floresta em pé.

Na Aldeia Craveiro- Pataxó, dez famílias foram atendidas pelo projeto, sendo que cada família destinou uma área de meio hectare (0,5 ha) para a implantação da agrofloresta, totalizando 5 hectares. A estrutura organizativa da aldeia é baseada em lotes individuais, manejados também individualmente por cada família.

O foco principal do modelo agroflorestal foi o da produção de banana, cacau e de culturas agrícolas (abacaxi, feijão, abóbora, milho e melancia) nos dois primeiros anos, enquanto o sistema ainda não apresenta cobertura que sombreie o solo.  Além da produção, o foco também é a conservação e restauração do solo e biodiversidade com a presença de espécies florestais nativas da Hileia Baiana, Mata Atlântica. 

 

Intercâmbio técnico-cultural.

O intercâmbio entre povos ocorreu entre os dias 30 e 31 de março. No dia 30 de março, os Maxakalis puderam conhecer a  Base Florestal do Programa Arboretum ( Herbário,  Laboratório de Sementes Florestais e Viveiro) e  conhecer o trabalho realizado pelo Programa em outras comunidades.  Os Maxakalis apresentaram aos profissionais do Arboretum o retorno e uma avaliação sobre os trabalhos realizados na Aldeia Pradinho.

Destacaram a importância do modo operativo que envolveu bastante orientação técnica e tecnologias como uso de maquinário no preparo do solo e plantio com hidrogel. A participação das mulheres Maxakali se destacou nesse momento, todas as participantes deram retornos positivos em suas falas sobre a importância do plantio para restaurar a floresta. Outros relatos, como o do João Mineiro Maxakali, revelaram que o diferencial do Projeto Florestas Culturais foi o fato dos técnicos do Programa plantarem junto com os indígenas, orientando-os e não apenas doando as mudas. O “fazer junto” mostrou grande importância para a execução e manutenção do Projeto.

No dia 31 de março, os Maxakalis se dirigiram à Aldeia Pé do Monte. Nas palavras do Cacique Braga, da Aldeia P ataxó anfitriã, foi um “momento histórico”, um encontro que havia acontecido anteriormente há mais de 20 anos.

Durante o encontro houve ritual de cantos religiosos, trocas de ambos os povos sobre sua resistência e luta pela sobrevivência cultural. Durante a parada no monumento de 500 anos de resistência, que guarda inscrição de todos os povos indígenas, houve discursos dos líderes de cada etnia. Um dos momentos mais emocionantes foi o abraço no Jequitibá ancião, milenar.

“Essa realização representou muito para o Arboretum. É uma honra ser ponte entre povos, como registro de um trabalho que quer conservar essa terra e a sua história”, pontuou Natália Coelho, Coordenadora Técnica Executiva do CDFS-Programa Arboretum pelo Serviço Florestal Brasileiro. 

 

Avaliação e próximos passos

A etapa inicial do projeto representou grande aprendizado para todas as partes. O plantio é apenas o primeiro passo de um processo de cultivo. As áreas implantadas serão acompanhadas e monitoradas com replantio e apoio ao manejo agroflorestal.

As áreas de restauração florestal em ambos os territórios precisam ser ampliadas para o benefício de outras aldeias e famílias a partir das lições dessa etapa. A participação, o compromisso, disciplina e envolvimento dos parceiros, equipe técnica e principalmente das comunidades, foram, e continuarão sendo, determinantes para o alcance dos resultados propostos pelo projeto.

 

 

Veja a exposição virtual pelo link:
https://drive.google.com/file/d/1royZITTiFFIwQHc-fz8ihh3HhckGGI8W/view?usp=share_link

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